“Todos os sábados, junto aos primeiros feixes de luz do vagaroso Sol,
chegam à Avenida José Bonifácio dezenas de gentes de mãos sujas. São de uma cor
e de um cheiro de terra que vêm de diferentes cidades do Rio Grande do Sul.
Elas puxam cordas, esticam lonas, montam estacas de ferro ou madeira e empilham
caixas coloridas. Aqui, uma vez por semana, encontra-se com outras mãos, sem
calos e fedendo a sabonete, trazendo o alimento mais limpo no qual já puderam
tocar.
A feira acontece aos sábados, das 7h às 13h, na rua José Bonifácio.
Há 22 anos, a Feira dos Agricultores Ecologistas (FAE) de Porto Alegre
preenche o canteiro central na pequena rua em frente ao Parque Farroupilha. Na
famosa Rua do Brique, Rua do Colégio Militar, Rua da Redenção, as manhãs de
sábado recebem desconhecidas beldroegas, ora-pró-nóbis, kinos, juçaras, araçás
e tantas outras. Além de milhares de outros alimentos distribuídos em 41 bancas
permanentes e oriundos de uma produção livre de agrotóxicos e insumos químicos.
Porto Alegre, em 16 de outubro de 1989, foi a primeira cidade brasileira
a realizar uma feira ecológica após o boom da Revolução Verde nos anos 1970. A
iniciativa foi da Cooperativa Coolmeia, marcando o Dia Mundial da Alimentação.
José Lutzenberger, Sebastião Pinheiro, Jacques Saldanha, Nélson Diehl, Glaci
Campos Alves e outros nomes estão entre os fundadores da Feira. Hoje, 149
famílias divulgam sua prática agroecológica e, mais do que isso, o trabalho
coletivo da Associação dos Agricultores Ecologistas Solidários do RS, temas tão
caros ao pensamento acerca da biodiversidade.
Quando o agricultor escolhe o que plantar, ele escolhe o que acha que há
de melhor, afirma. Seu Juarez defende as “suaves misturas” que a natureza
provoca, inclusive entre os 19 tipos de arroz que hoje cultiva, sem nunca ter
se preocupado em purificá-los. Para ele, a sociedade, violentada pelo
imperativo econômico da Revolução Verde, desconhece a variedade existente de
alimentos. Conceito que a ativista ambiental indiana e doutora em física
Vandana Shiva ampliaria, criando o entendimento do que chama de “monoculturas
da mente”.
Certamente essa tendência de monocultura leva a um posicionamento
centrador, que bloqueia o avanço de um conhecimento maior sobre tipos de
alimentos ainda desconhecidos. Esse comportamento que a visão positiva traz a
qualquer conhecimento do mundo exclui possibilidades outras, ou seja, para
“fora do caminho” pragmático da eficiência, que não sirvam para aplicação na
lógica mecânica do sistema financeiro.
Comentários
Postar um comentário